Cybèle Varela teve sua produção inicial muito marcada pelo contexto histórico e artístico turbulento dos anos 1960. Natural de Petrópolis, na serra fluminense, Cybèle iniciou seus estudos de pintura no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro [MAM-RJ], entre 1962 e 1966, onde teve contato com a cena jovem carioca, e os grupos de artista engajados nas novas experimentações com a figuração. Os trabalhos desenvolvidos entre 1960 e 1970 — vivendo a agitação do movimento feminista internacional, das mudanças sociais que culminaram em Maio de 1968, da ditadura militar brasileira e da consolidação da sociedade de consumo — apresentam um olhar crítico e cheio de ironia que comentam as transformações da época. Suas obras vão de encontro aos questionamentos levantados pelos grupos da Nova Figuração e da Nova Objetividade: a artista passa a incorporar elementos da cultura urbana, símbolos dos meios de comunicação de massa e da linguagem da propaganda, além de experimentar com materialidades inusitadas. Sobre o engajamento de Cybèle Varela nesse período na história da arte brasileira, Paulo Miyada pontua:
“No Brasil, o ciclo da opinião (e da Nova Figuração) acontece de 1964 até o fim de 1968, com a já citada promulgação do AI-5. Cybèle estava então plenamente engajada em experimentar as formas e processos que circulavam a seu redor, tanto no meio das artes visuais, quanto além dele. Em outros textos, já escrevi que essa geração se moldou antes por princípios éticos do que estéticos, mas o caso de Varela torna difícil essa distinção. Acredito que o que hoje se conhece de sua produção jovem demonstra que foi o apalpar da cena cultural em uma época de exceção que a levou a lidar com as contradições daquele tempo. Crescida em um lar em que a política não era um assunto reiterado, sem contar com um convívio tão assíduo com os cariocas, e por ir e vir sempre de Petrópolis, ela se punha em relação com tentativas de contestação que já lhe chegavam como expressão estética. “
Os anos 1960 consagram seu trabalho, e após participar em diversas exposições coletivas importantes no Brasil, ela apresenta sua obra na 9a Bienal de São Paulo (1967). A partir de 1968 se inicia o período mais duro da ditadura militar, instaurada em 1964, e Cybèle Varela não só destrói um de seus trabalhos — ‘O Presente’, que integra a Bienal — como busca uma bolsa de estudos fora do país, onde possa exilar-se. Viaja para estudar na École du Louvre em Paris, como bolsista do governo francês, nos anos de 1968 e 1969, e depois novamente em 1971 e 1972. Depois reside na Cité Internationale des Arts entre 1973 e 1974. Em 1975, participa da mostra 30 Créateurs d’Aujourd’hui, itinerante pela França, que reune os melhores artistas do ano no país, e depois estuda na École Pratique des Hautes Études entre 1976 e 1978, onde escreve um ‘Mémoire’ sobre Arte Corporal. Na França seu trabalho se volta para as paisagens e o estudo da luz solar. Nos anos 1980 se aproxima da temática da natureza.