A Superfície tem o prazer de apresentar Vênus Ancestral, primeira individual dedicada ao trabalho de Celeida Tostes em São Paulo. Com texto de Pollyana Quintella, a mostra retoma a importante trajetória da artista que dedicou a vida ao diálogo entre arte e educação, ampliando o pensamento no campo da escultura.
Celeida Tostes elegeu o barro como matéria-prima e suporte para suas experimentações, distanciando-se do percurso de colegas vanguardistas para desbravar a própria linguagem artística através da cerâmica. A artista trabalhou na construção de uma metodologia pedagógica que convidava alunos à pesquisa intuitiva e consciência corporal. Desenvolveu a Oficina de Artes do Fogo e transformação de materiais no Parque Lage, onde lecionou por mais de vinte anos. A consolidação de sua pesquisa aconteceu em um projeto no Morro do Chapéu da Mangueira, em 1980, que visava a descoberta da matéria através do fazer, instigando os alunos ao resgate de suas próprias linguagens criativas.
A relevância de sua atuação como artista abriu espaço para que Celeida Tostes participasse de exposições importantes no cenário nacional e internacional. Além de apresentar Projeto Gesto Arcaico (1990-91) na 21ª Bienal de São Paulo (1991), a artista foi a representante brasileira da coletiva Arquitetura de Terra ou O futuro de uma Tradição Milenar (1981) organizada pelo Centre Georges Pompidou no Musée d’Art Moderne de Paris e que, posteriormente, itinerou para outras importantes instituições, como o MAM Rio, o MASP e a Fundação Calouste Gulbelkian, em Lisboa. Em 1996, pouco após seu falecimento, Celeida Tostes foi homenageada na II Bienal Barro de América, em Caracas.
Sua prática artística espelha os princípios que desenvolveu nas salas de aula: de forte caráter experimental, a produção de Celeida atesta para sua pedagogia emancipatória, coletiva, conectada aos sentidos e aos elementos. Tema e matéria-prima se complementam: a terra e o feminino, bem como as temáticas relacionadas a eles — orgânico, fertilidade, sexualidade, maternidade, nascimento e morte —, são fios condutores da obra da artista que transforma o barro em corpos cerâmicos. Dentre as quase 30 obras presentes, a exposição apresenta: Vênus e Guardiões, que aludem, respectivamente, ao feminino e masculino, ao útero e ao falo, a gestação e ao movimento; Selos, trabalho que assinala aspectos importantes de sua produção, como a multiplicidade de assinaturas e a ideia de circuito; Amassadinhos, obra-síntese de sua produção, originada a partir do que a artista denominou Gesto Arcaico, o ato reflexo de fechar a mão sobre qualquer matéria.
Com uma trajetória que desafia a dinâmica do mundo da arte, Celeida Tostes usava de seu fazer artístico como ferramenta de transformação social, levando o trabalho para além da performance individual ou da construção do objeto.
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Confira o preview da exposição
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Passagem
1979
Impressão sobre papel fotográfico
Conjunto de 23 imagens + poema
23,5 x 35 cm [horizontais] | 35 x 23, 5 [verticais]
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©Henri Stahl ©Celeida Tostes