Território Gravado
10.09 — 09.11.19
Artista: 

Curadoria: Marcelo Drummond

Texto: Renata Marquez

Catálogo

A Galeria Superfície tem o prazer de convidar para a abertura da exposição Território Gravado, primeira individual da artista mineira Lotus Lobo, nova artista representada pela Superfície. Com curadoria do professor e artista visual Marcelo Drummond, a mostra abriga obras da década de 1960/1970, bem como obras de sua produção mais recente, 2019.

A prática artística de Lotus Lobo identifica-se profundamente com o repertório técnico, mas também experimental da Litografia, contemplando, ainda, o resgate e a preservação da memória da linguagem da gravura em Minas Gerais.

Sua pesquisa caracteriza-se pelo uso diversificado de suportes e procedimentos extraídos do processo litográfico, sua capacidade técnico-expressiva, que se manifesta como importante aporte material e conceitual para a sedimentação da linguagem autoral. Tal investigação inaugura-se com a apropriação e ressignificação de marcas litográficas industriais, perpassa a experimentação de diferentes bases (pedra, papel, plástico, acrílico e folha de flandres), culminando na intervenção e releitura das marcas (as anotações).

No decorrer dessa vasta produção, Lotus Lobo constituiu um importante acervo de pedras litográficas, matrizes em zinco e embalagens em folha de flandres provenientes da Estamparia Juiz de Fora, Minas Gerais, décadas de 1930–1960. Nesses suportes, apresentam-se desenhos de antigas marcas de produtos alimentícios: manteiga, balas, biscoitos, fumo e banha. Tal acervo serviu, significativamente, como repertório iconográfico na produção de obras de diversos períodos de sua trajetória artística. Tais experiências, inauguradas nos anos 1970, foram seminais na construção discursiva da artista e ainda reverberam na sua produção contemporânea.

Na sua carreira artística, merecem destaque sua participação na X Bienal de São Paulo (1969), quando recebe o Prêmio Itamaraty ao exibir três objetos-gravuras manipuláveis pelo público e, ainda, na emblemática exposição Do corpo à terra, organizada pelo crítico de arte Frederico Morais, ocorrida no Parque Municipal de Belo Horizonte (1970).

Na exposição Território Gravado, serão expostos exemplares da notória série Maculaturas (1970), bem como obras da série da Estamparia Litográfica (2016), composta de impressões litográficas em caixas de papelão, papel cartão, papel de embrulho e reuso de embalagens de produtos atuais.

No total, serão exibidas trinta obras em suportes e dimensões variáveis, concebidas a partir de impressões originais e objetos de sua vasta coleção da litografia industrial: matrizes de zinco, pedras litográficas e impressões em papel em formatos variados estarão dispostos e articulados sobre prateleiras, mesas e paredes, de modo a potencializar a criação de um potente vocabulário visual, carregado de temporalidades, articulado através dos princípios de impressão, apropriação e edição. A artista mostrará três obras inéditas especialmente concebidas para a exposição.

A mostra instaura um Território Gravado e se torna, assim, uma oportunidade de encontro com a trajetória desta artista brasileira que contribui a 55 anos para resgatar, conservar e reescrever, de modo particular, a história da linguagem litográfica, seus modos e meios expressivos, em pleno diálogo com processos contemporâneos.