Victor Florido, jovem artista argentino que já tem obras nas coleções do Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em Madrid, e na CIFO – Cisneros Fontanals Art Foundation, pinta quadros sóbrios de paleta limitada: cinzas, marrom, azul escuro e um pouco de rosa, construindo, a partir de uma técnica apurada e de certo classicismo, ambientes domésticos possíveis.
Em suas telas vemos quartos, salas, bibliotecas, paredes com sobreposição de quadros que intensificam, através de uma perspectiva cuidadosa, a beira de um abismo. Victor Florido pinta um quadro que por sua vez contém outro quadro, mas que também pode conter desenhos, leituras e outros trabalhos que o fizeram começar a pintar. Nesta estrutura recursiva das possibilidades da imagem em série dentro de cada trabalho fica claro que o artista usa suas próprias pinturas como um tema. Um pano pintado e coberto por um retângulo branco obscurece o que está por trás. O encerramento definitivo do significado, o apagamento, o espaço em branco que suprime a visão do que foi feito antes, censurado pelo próprio artista. Como observa Cecilia Guerra Lage no texto que escreveu sobre Victor: “No silêncio de seu ateliê o encontramos pintando. Pinta cenas interiores. Na verdade, pode-se dizer que sempre pinta a mesma cena, assim como alguns cineastas filmam uma e outra vez a mesma história. Se fosse assim, então todas as pinturas de Victor poderiam ser vistas como testes de uma mesma obra — que nunca existiu ou que ele pode ter pintado e já se encontre descansando contra a parede do ateliê.”