ArPA 2024
26.06 — 30.06.24

Natural de Santa Luzia, Maranhão, em 1986, Gê Viana vive e trabalha em São Luís. A artista produz colagens e fotomontagens, analógicas e digitais, tendo como mote poético a expurgação das violências estético-simbólicas de imagens históricas, construídas nas tramas da colonização brasileira. Revelar essas imagens a partir da própria experiência particular, torna-se ponto de partida no caminhar ao entendimento de si mesma, enquanto fruto das raízes que constituem suas descendências indígenas e africanas fincadas no território do Maranhão.

Para a 3a edição da ArPa, a Superfície se junta em parceria com a Lima Galeria para apresentar um solo de Gê Viana, trazendo trabalhos de duas importantes séries da artista.

Couro Laminado “emerge do entendimento de que as festas e celebrações afro-diaspóricas estão intimamente relacionadas com a luta por direitos e a busca pela emancipação no Maranhão. A série parte da vivência em roda, do querer comum de um tempo que foi conquistado: o tempo livre. Couro Laminado é a revolta das multidões, a tecnologia da mata para que uns aos outros pudessem se ver, é pedido de proteção e alimento, é comunicar-se na boca da noite.”1

A festa também se faz presente nas colagens digitais da série Radiola de Promessa. Recortando a história de sofrimento e apagamento de uma população, Gê Viana devolve suas heranças e crenças. “A perspectiva de reza, benzimento vem dessas descendências em que a artista absorve essa prática ancestral, faz da reza uma arte da memória e ferramenta de cura, limpeza e rogo para tudo aquilo que foi desgastado, forjado, forçado, empobrecido, “clareado”. A partir desse modo de ver e ser, apropria-se de figurações históricas do imaginário colonial brasileiro, afasta o lugar de objeto e retoma o lugar de agente que revela mundos, nomeia indivíduos, gera possibilidades diversas de afeto, coletividades,defesas, alegrias, trocas, processos triviais imbuídos em cores, recortes e deslocamentos apresentados em seus trabalhos.” 2


1. Texto de Gê Viana
2. Trecho extraído do texto de Thayná Trindade, escrito em 2022, na ocasião da exposição “Retirar o sol das cabeças – uma reza das imagens”, individual de Gê Viana na Superfície.