No dia 23 de outubro foi inaugurada na Sala Fernando Pessoa do Consulado Geral de Portugal em São Paulo a exposição Só é possível se formos 2. A mostra promove um encontro entre a brasileira Anna Costa e Silva e a portuguesa Fernanda Fragateiro, artistas de gerações, práticas e trajetórias distintas, que coincidem no desejo de pensar além dos limites individuais.
Em um momento no qual a defesa do coletivo e de um tempo desacelerado são ainda a exceção, esta experiência testa as possibilidades de estar e construir junto, de aprender e desaprender a 2, com todas as dificuldades que isso implica. As obras produzidas especialmente para este projeto, foram concebidas em diálogo com a arquitetura, os jardins e a condição do Consulado Geral de Portugal em São Paulo — espaço que simboliza a complexidade da relação de mais de cinco séculos entre os dois países. São trabalhos que sugerem uma vivência pausada desse lugar e, idealmente, em par.
Anna Costa e Silva cria com suas obras um lugar de coexistência essencialmente imaterial e convoca a participação do espectador, que traz consigo não só sua história particular, mas, também, nossa história coletiva e compartida. Em sua prática, a artista carioca promove encontros entre pessoas de distintas idades, contextos e realidades. Tais encontros acabam por disparar sentimentos e sensações de intimidade e estranheza, ao mesmo tempo que esticam e transbordam os limites entre realidade e ficção, eu e o outro, experiência e memória. Na Sala Fernando Pessoa, Anna apresentará uma instalação celestial em duas partes que homenageia a artista Flora Diegues, sua amiga e colaboradora, que faleceu de maneira prematura em 2019. A primeira parte da peça consiste em uma videoinstalação que sobrepõe em lados opostos de uma tela translúcida imagens das “horas mágicas” do dia, do nascer do sol e do pôr do sol, captadas de dentro de um avião sobrevoando o Oceano Atlântico — o mesmo mar que separa e conecta Brasil e Portugal —, criando um sobreposição de dois tempos e espaços, ou uma tentativa de dobrar o tempo.
A segunda parte da instalação ocupa cantos opostos da mesma sala. Em um deles, é possível escutar o áudio da leitura de uma carta escrita pela Flora para a Anna, em 2016. No outro canto, está o som da leitura da resposta escrita pela Anna para a Flora, em 2020, e nunca enviada. Em outra peça da artista, a deriva Eu, que estou à espera, performers conduzem os visitantes por experiências de suspensão e intimidade, transbordando o espaço expositivo para as ruas da cidade. Esse jogo se inicia com uma série de bilhetes, como mensagens na garrafa, deixados em lugares inusitados do espaço expositivo, com indicações para um encontro com um (possível) desconhecido. O trabalho acontece nesse encontro-deriva. As ruas da cidade tornam-se cenários para narrativas autobiográficas, que dissolvem a hierarquia entre performer e espectador e criam um campo de conexão e estranhamento.