Nascida em Maceió, Marina Camargo concluiu bacharelado e mestrado em Artes Visuais no Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Sua pesquisa sempre esteve marcada por uma noção expandida de desenho, na qual imagem e pensamento se constituem mutuamente. Foi com a mudança para Barcelona, onde estudou Cultura Visual na Universitat de Barcelona, que temáticas relacionadas à cartografia e ao deslocamento passaram a ser recorrentes em seu trabalho. Para a artista, a representação cartográfica de espaços é um modo de pensar sobre as ordens do mundo: as diversas narrativas históricas, econômicas, políticas e sociais formam mapas de naturezas distintas. Apesar de serem baseados em dados da realidade, eles carregam sentidos que extrapolam a precisão científica. Marina Camargo verte a representação do mapa fazendo uso de diversas mídias e suportes—ora em instalações tridimensionais em borracha ou em metal, ora na forma de desenhos, fotografias, ampliações ou pinturas—, ultrapassando qualquer dimensão objetiva da cartografia. Interessa-lhe mais a falha dessas representações, aquilo que permanece incompleto nos relatos do mundo; são vestígios da representação do espaço, ruínas dos tempos históricos que marcam os espaços e lugares habitados. Mapas que são marcados por narrativas e textos contados sem palavras, mas articulados por um vocabulário próprio. Todo mapa é feito de invenção, todo mapa guarda uma dimensão narrativa que o aproxima de uma ficção.
Na série de Mapas-moles, o uso de materiais flexíveis como borracha e látex atribui uma distorção física das formas dos mapas. Essa dimensão fluida se mistura a uma dimensão erótica destes trabalhos, na qual a corporeidade atribuída aos mapas é algo que não pertence à natureza da cartografia, remetendo a uma dimensão escultórica das formas. Nesse sentido, a referência à série ‘Obra mole’ de Lygia Clark é central, pois ultrapassa a ideia de escultura através de formas que não tem dentro e fora, formas que se expandem a partir de superfícies recortadas, dobradas, às vezes suspensas. Os trabalhos de Marina Camargo evidenciam enfim dois modos distintos de percepção dos lugares: através da representação do espaço ou da presença nos lugares (percepção da matéria). O que se anuncia entre esses dois modos é um sentido de deslocamento marcante tanto na sua vida quanto em seu trabalho.
Em 2010, Marina Camargo recebeu uma bolsa do Deutscher Akademischer Austauschdienst [DAAD] para estudar com Peter Kogler, na Akademie der Bildenden Künste, em Munique. Atualmente, ela vive e trabalha entre Porto Alegre e Berlim. Suas obras integram algumas coleções nacionais importantes, como o Museu de Arte do Rio (MAR), o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), o Centro Cultural São Paulo (CCSP), entre outros.