
Nascida no Rio de Janeiro em 1929, Celeida Tostes formou-se na Escola Nacional de Belas Artes em 1955. Alguns anos depois, foi premiada com uma bolsa do governo norte-americano para estudar na Universidade do Sul da Califórnia, onde pode aprofundar e ampliar seu conhecimento sobre técnicas industriais de cerâmica. Ainda em solo americano, Celeida foi assistente da artista Maria Martinez, oportunidade fundamental para aproximá-la, definitivamente, do trabalho com o barro. Paralelamente ao seu trabalho artístico, atuou ao longo de sua vida como professora em atividades acadêmicas. A partir de 1975, passa a lecionar na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde foi professora por mais de 20 anos. No começo da década de 1980, a artista iniciou um trabalho com a comunidade do morro do Chapéu Mangueira, assumindo a coordenação do projeto Formação de Centros de Cerâmica Utilitária nas Comunidades de Periferia Urbana do Rio de Janeiro e instruindo grupos de residentes da comunidade no manuseio e na criação com o barro local. Alguns anos depois, então, deu aulas na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, de 1989 até 1992. Em 1996, pouco após seu falecimento, Celeida Tostes foi homenageada na II Bienal Barro de América, em Caracas, na Venezuela.
A feminilidade — bem como as temáticas relacionadas a ela: fertilidade, sexualidade, maternidade, fragilidade, resistência, nascimento, morte e corpo — é um fio condutor da obra da artista, que elegeu o barro como a matéria-prima fundamental de seu trabalho. Na experimentação com o material a artista extrapola a noção de uso e funcionalidade: com o gestos marcados pela repetição e insistência, Celeida transforma barro em corpo cerâmico. Tema e matéria-prima se complementam, a relação com a terra, com o orgânico, o inorgânico, o animal, o vegetal, os corpos. Em Passagem (1979), por exemplo, ela registra um rito no qual é envolvida em uma ânfora de argila com o auxílio de duas assistentes. Completamente coberta pelo barro, a artista então escapa, rompendo a estrutura e deslizando para fora deste útero simbólico: renascendo.


Passagem
1979/2021
Impressão
sobre papel fotográfico
Políptico de 23 fotografias
Dimensões variáveis


Passagem
1979/2021
Impressão
sobre papel fotográfico


Passagem
1979/2021
Impressão
sobre papel fotográfico


Passagem
1979/2021
Impressão
sobre papel fotográfico


Vista da exposição Ventre da Terra, na Superfície, São Paulo, 2020.
Em Passagem (1979), com a ajuda de duas assistentes, a artista cobriu o corpo com argila líquida e submergiu em um grande vaso de barro construído em seu apartamento em Botafogo, no Rio de Janeiro. As assistentes cobriram o vaso com mais barro até fechá-lo, mantendo Celeida selada lá dentro, como se dentro de um ovo. Depois de algum tempo, a artista rompeu a estrutura com força e projetou seu corpo para fora, o que rendeu um trabalho entre a escultura, a performance e a fotografia.
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Texto escrito por Pollyana Quintella em ocasião da mostra


Celeida Tostes no Parque Lage, Rio de Janeiro
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Foto: Celso Guimarães


Guardião
Solo-cimento
150 × 60 × 40 cm
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Foto: Vicente de Mello


Guardião
Déc. 1980


Guardião
Déc. 1980
Solo-cimento
290 × 70 × 115 cm
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Foto: João Bosco


Guardião
Déc. 1980
Solo-cimento
290 × 70 × 115 cm
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Foto: João Bosco


Revista Arte Cerâmica do 30º Congresso Brasileiro de Cerâmica. Na capa: forno do Galpão de Arte do Chapéu Mangueira.


Roda na capa da Revista Módulo, edição 93, 1987


Mó
Argila
90 ø cm
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Foto: Vicente de Mello


Celeida Tostes na Oficina de Artes do Fogo e Transformação de Materiais, Parque Lage, Rio de Janeiro
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Foto: Celso Guimarães


Amassadinhos
Argila
Aproximadamente 142 peças, medindo entre 5 e 15 ø cm cada


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Texto escrito por Pollyana Quintella em ocasião da mostra


Gesto Arcaico
Instalação para a 21ª Bienal de São Paulo, 1991
Gesto Arcaico nome que encontrei para a ação reflexa da mão quando recebe em seu bojo o barro macio, é o trabalho que apresento na 21ª Bienal de São Paulo. Foi feito de mutirão. Sem referência de classe, centenas de mãos de identificaram no gesto. Só um aperto, um toque, um amassado. Não há nenhuma intenção de forma, mas cada olho com sua história, irá construir um objeto, uma referência. O trabalho realizou-se no presídio Frei Caneca no Rio de Janeiro, no Morro do Chapéu Mangueira, comunidade chamada favela, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, no Parque Lage, no Museu de Arte Mooderna do Rio, com gente que passava, com doutores na COPPE da UFRJ, com empregadas domésticas, com meninos de rua.
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Texto de Celeida Tostes.
Foto: Ariovaldo Santos |
CPDoc JB


Sem Título
da série Rodas, S/D
Solo-cimento
35 discos, aproximadamente
5 ø cm cada
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Foto: Acervo Projeto
Celeida Tostes


Celeida Tostes com obras da série Rodas, na sua individual do Paço Imperial, Rio de Janeiro, 1994
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Foto: Marcia Foletto |
Agência O Globo


Sem Título
Cerâmica e gramínea seca
[ninho: 10 × 15 ø cm | ovos: 5,5 × 4,4 ø cm, 3,5 × 3 ø cm, 3,1 × 2,8 ø cm]
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Foto: Leonardo Ramadinha


Sem título
da série Ninhos, S/D
Cerâmica, palha e cartão
8,3 × 18,3 cm
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Foto: Leonardo Ramadinha